O lançamento do livro 'Imagem Foto – Corpo e Lugar', da fotojornalista de Lucília Monteiro, foi o mote para doação do espólio de José de Sousa Monteiro, fotógrafo de Santa Cruz, ao Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s.
“É com muito orgulho que eu e os meus irmãos, aqui presentes, doamos o espólio do meu pai ao Museu de Fotografia Vicentes”, começou por referir Lucília Monteiro, justificando que os “Vicentes foi quem influenciou toda esta escola da fotografia na Madeira”.
“Este livro pretende ser uma continuidade dos arquivos fotográficos madeirenses”, referiu a jornalista desejando que as fotografias doadas servissem para fazer uma leitura do contemporâneo. “Queria que houvesse uma continuidade deste projeto com outros artistas madeirenses, que se trabalhassem os arquivos e que os arquivos continuassem vivos e contemporâneos”, reforçou Lucília Monteiro na apresentação do livro.
O diretor do Museu de fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s referiu que o momento é “grande “satisfação e orgulho”, por tratar-se de uma obra de “uma das maiores fotojornalistas, com largo percurso profissional na área, mas também por estarmos perante um verdadeiro livro objeto, um livro de autor cujo o número de exemplares não ultrapassam os 500”.
“A Lucília Monteiro faz aqui uma leitura contemporânea do ciclo da vida através dos diversos retratos captados pelo seu pai, José de Sousa Monteiro, fotógrafo de Santa Cruz e fundador da casa fotográfica ‘Imagem Foto’”, destacou Filipe Bettencourt.
A doação do arquivo fotográfico de José de Sousa Monteiro “representa um testemunho de grande confiança nesta instituição por parte dos seus familiares”, vincou.
José de Sousa Monteiro exerceu a sua atividade em Santa Cruz entre 1950 e 1999, tendo relatado boa parte da história do concelho, na segunda metade do século XX. O espólio doado ao Museu de Fotografia da Madeira é constituído por mais de 100 mil negativos referentes a este período, donde se destacam fotografias da construção do Aeroporto de Santa Catarina. Documentos que vão ser investigados, inventariados e divulgados. “Esta é a primeira doação com esta dimensão que o Museu de Fotografia da Madeira acolhe proveniente de uma zona rural. Todas as outras doações foram de fotógrafos que exerciam a sua atividade no Funchal. O património cultural da Região Autónoma da Madeira é de sobremaneira valorizado”, concluiu Filipe Bettencourt.
Parlamento madeirense e Governo Regional congratulam-se com doação
O secretário regional de Turismo e Cultura, Eduardo Jesus, agradeceu à fotojornalista e à família “o legado que eleva a nossa responsabilidade sobre o ponto de vista do cuidado que temos de ter com esta memória”.
“A memória tem valor quando é colocada ao serviço do nosso crescimento, da nossa evolução, da nossa educação”, afirmou Eduardo Jesus, esperando que “este seja o início de mais um processo de criação”, e que através da fotografia “se possa querer saber mais, investigar mais e dar a conhecer mais”.
A Vice-Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Rubina Leal, também enalteceu a atitude da família de José de Sousa Monteiro, “que foi capaz de fazer a maior homenagem ao fotógrafo, através da doação de um espolio que todos conhecem em Santa Cruz”.
Rubina Leal destacou ainda a obra da fotojornalista Lucília Monteiro que “coloca grande emoção no seu trabalho”, agradecendo “o que tem feito, o livro agora apresentado, e a doação ao Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s.
Sobre a autora
Lucília Monteiro nasceu na Madeira em 1966. Em 1988 ingressou no Curso Superior de Fotografia na Escola Superior Artística do Porto, para depois iniciar a carreira de fotojornalista. Em 2014 concluiu um mestrado em fotografia e cinema documental.
De entre as experiências em jornais e revistas portugueses (Expresso e Visão), destacam-se trabalhos sobre as minorias étnicas na China (1998) e relacionados com Portugueses pelo mundo: Venezuela e Angola (2001). Guiné, Moçambique, Cabo Verde, Brasil.
O seu trabalho fotográfico pode encontrar-se em publicações individuais – Tibete: Quase o Céu (Dividendo, 2000), Ex-voto (livro de autor 2014) bem como em coletivas, entre elas Beelden in Vervoeing (Porto Capital Europeia da Cultura, com Roterdão 2001) "Metáforas do Sentir Fotográfico" (Centro Português de Fotografia, 2002) e Fotografia no Douro: Arqueologia e Modernidade (CPF 2006).
Além do fotojornalismo, tem participado com projetos pessoais no âmbito da fotografia documental/arte/instalação em exposições individuais: Ex-voto (casa das artes no Porto e na Porta33 Madeira, Galeria Salgadeiras, Lisboa 2014) e coletivas: A2V A Duas Velocidades (Centro das Artes Casa das Mudas, Ilha da Madeira 2013) com os artistas (Rigo23 e Vhils) resultante de uma residência artística, e no Brasil, em Belém do Pará O Cirio (2019).
Lucília Monteiro cria narrativas a partir do seu arquivo fotográfico de 35 anos, e relaciona com o presente. Os temas centrais das suas investigações são: corpo e lugar e seus mitos.
Apresentação livro Lucília Monteiro 03Maio2022 (áudio)