O Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira alertou, esta tarde, para os riscos sociais do excesso de informação que “origina dúvidas e distorce os factos e os acontecimentos”.
“Aquilo a que hoje se assiste é a uma completa desregulação do mercado da informação e o tal jornalismo de referência vive na amargura de uma profunda crise financeira e se não for mais apoiado pelos Estados e pelos Governos, corremos sérios riscos de ameaças à Democracia”, afirmou José Manuel Rodrigues na sessão de encerramento do programa “Literacia para os Media nas Universidades Sénior – Madeira 2022”, que decorreu nas sete Universidades Sénior da Região.
“A Democracia e a Liberdade têm custos e um deles é o de assegurar uma informação de qualidade, imparcial, que reflita a realidade e procure informar e formar as pessoas para a construção de sociedades que cultivem os valores e as regras que garantam o funcionamento do Estado de Direito e assegurem as Liberdades e as Garantias dos cidadãos.
A par desta essencialidade, é absolutamente crucial apostar na literacia mediática de todas gerações”, reforçou o Presidente do Parlamento madeirense.
“Os cidadãos devem ter a formação e as ferramentas necessárias para distinguir a verdade da mentira e a informação da propaganda”, disse.
“É por isso que este projeto me enche de satisfação e orgulha o Parlamento da Madeira, por ser inovador e pioneiro no plano nacional, mas sobretudo porque estamos a prestar um serviço público e a cumprir um dos nossos deveres, que é aproximar os eleitos dos eleitores”.
O projeto foi desenvolvido pela Associação Literacia para os Media e Jornalismo (ALMJ), em parceira com a Assembleia Legislativa da Madeira.
José Manuel Rodrigues começou por lembrar “os estudos que demonstram que as pessoas mais jovens são mais desconfiadas, mais céticas, em relação às informações que lhes chegam e daí que procurem aceder a fontes mais credíveis. Por seu lado, os mais velhos têm uma tendência para acreditar à primeira no que leem, ouvem ou veem, não duvidando da informação que recebem, por mais absurda e até invulgar que seja, e têm mais dificuldade em aceder a fontes alternativas e credíveis para saber da sua veracidade.
E percebe-se porquê. Até há 20 anos as notícias chegavam-nos pela chamada comunicação social de referência, ou seja, as poucas televisões e rádios públicas e privadas existentes e os diários e semanários que nos fomos acostumando a comprar. Podiam ter orientações ideológicas diferentes, mais ou menos liberais, podiam ser mais ou menos sensacionalistas na abordagem dos assuntos, mas sabíamos que a mentira, a falsidade, a deturpação, a invenção, eram raras e que, quando aconteciam, eram criticadas pelos leitores, pelas estruturas sindicais e pelos organismos reguladores da deontologia.
As pessoas podiam maioritariamente acreditar naquilo que liam, ouviam e viam.
Ora este mundo já não existe ou, pelo contrário, existe, mas foi ultrapassado e moldado pelos avanços tecnológicos e pela velocidade da informação privatizada das redes sociais”, concluiu.
Já a presidente da Associação Literacia para os Media e Jornalismo, Sofia Branco, explicou que o projeto nasceu do congresso de Jornalistas, realizado em 2017. Tem como objetivo tornar o “jornalismo mais forte” e constituir-se como um desígnio democrático, através da capacitação das pessoas para conseguirem distinguir “o que é informação do que não é informação”.
No Continente português e nos Açores, o projeto tem ajudado a formar professores, através de parceiras com a Direção Geral de Educação e com a Secretaria Regional de Educação dos Açores. Agora a ALMJ espera que os docentes da Madeira possam também receber esta formação. “É uma experiência mais formal, mas os professores são as pessoas que mais passam tempo com as nossas crianças”, afirmou. “Era muito importante que estivessem capacitados para se moverem neste mundo da desinformação e para conseguirem explicar o melhor possível aos seus alunos a atenção que devem ter e o que podem consumir”, aclarou Sofia Branco.
António Macedo Ferreira, formador e membro, na Madeira, da Associação Literacia para os Media e Jornalismo, realçou o caráter inovador do projeto, que trouxe para debate, junto das “pessoas mais velhas, as questões das fake-news e da literacia para os media e jornalismo”. “Nesta faixa etária são mais utilizadores do Facebook. As pessoas tinham a noção que nem tudo o que viam nas redes eram factos verdadeiros, mas no fundo o que precisavam era de serem alertadas de como é que podiam conferir a veracidade desses factos”, rematou.
O projeto “Literacia para os Media e Jornalismo nas Universidades Sénior – Madeira 2022” traduziu-se em ações de formação nas Universidades Sénior de Funchal -Santa Maria Maior, Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco, U. S. Funchal, Machico, Câmara de Lobos, São Vicente e Porto Santo. Envolveu cerca de uma centena de formandos acima dos 55 anos.
Encerramento programa Literacia para os Media (áudio)