A cientista do Centro de Química da Madeira Rita Castro está a desenvolver dois projetos de investigação relacionados com a utilização de dendrímeros no combate ao cancro e de utilização das plantas invasoras para a produção de materiais biodegradáveis.
A especialista em Bioquímica da Universidade da Madeira foi a entrevistada do segundo programa “Madeira Novos Talentos + Futuro”, realizado esta manhã, no local de trabalho da docente. Trata-se de uma parceira de divulgação dos novos talentos regionais promovida pelo jornal JM a Rádio JM e a Assembleia Legislativa da Madeira.
Na entrevista conduzida pelo Presidente do Parlamento madeirense, José Manuel Rodrigues, Rita Castro começou por salientar que a Universidade da Madeira tem bons laboratórios e boas condições para o desenvolvimento da pesquisa científica. No entanto admite que a condição de insularidade acarreta custos acrescidos, pois há amostras que exigem uma tecnologia mais avançada e que não existe na Região. “O mesmo se passa quando temos que adquirir materiais, reagentes químicos, procedimentos de manutenção de equipamentos e deslocação de técnicos, acrescem custos derivados da ultraperiferia, essa é uma das maiores desvantagens”.
A utilização de materiais inteligentes é uma das áreas de trabalho da investigadora filha de madeirenses, nascida na África do Sul. No combate ao cancro tem desenvolvimento ciência em torno do “silenciamento de genes”. “No caso de haver uma mutação de um determinado gene pode haver um aumento descontrolado de células, e essa proliferação celular pode ser travada através dos dendrímeros”. Trata-se de macromoléculas sintéticas que “são utilizadas para colocar os fármacos nas células”. Estas nanopartículas, partículas muito pequenas, “transportam o medicamento até à célula específica”, explicou. Durante o doutoramento trabalhou relação entre os dendrímeros e o ADN. Esta tecnologia “permite reter fármacos específicos que se ligam ao ADN, para conseguir a libertação dos fármacos de forma controlada. O objetivo é aplicar menos fármacos e de forma controlada”, havendo, com esta técnica, menos custos e menos impactos secundários para a saúde.
O Centro de Química da Madeira desenvolve trabalho para o Serviço Regional de Saúde (SESARAM). Durante a pandemia produziu o gel que foi usado pelos serviços regionais. Com a abertura do novo hospital, Rita Castro considera que se abrirão novas portas à ciência e aos investigadores madeirenses, sendo uma das mais valias o biotério que vai ser instalado. “O hospital vai permitir fazer experiências com animais. Neste momento testamos in vitro, com células em cultura. Trata-se de um ambiente 2D, mas um fármaco reage de forma diferente em ambiente 3D”, adiantando que os resultados são sempre melhores se testados num ambiente mais próximo da realidade, neste caso em animais.
A cientista bioquímica tem desenvolvido investigação em torno do cancro do pâncreas. Cerca de 55% dos cancros detetados no pâncreas estão em estado avançado. “Neste momento não existe um marcador específico para a doença e por isso o diagnóstico precoce é difícil de fazer”, explanou. Apesar dos tratamentos, o cancro do pâncreas continua a ser bastante mortal e “o objetivo da investigação é tentar fazer que o fármaco seja entregue de forma controlada e próximo da célula cancerígena”, de modo a melhorar a longevidade e a qualidade de vida do doente.
Os investigadores também aprendem com o evoluir da tecnologia e com a experiência de outros cientistas. Rita Castro revelou um “estudo, de 2021, do caso de um doente com cancro, já em fase avançada, com metástases, que 9 meses depois da vacina da Covid-19 viu o seu tumor reduzido em 73% do seu tamanho. E isso pode abrir as portas para estudos mais avançados, e quem sabe seja usada a tecnologia da vacina para auxiliar na regressão de tumores”, reforçou.
“Atualmente, cerca de 60% das pessoas que contraem cancro já não morrem com a doença, graças aos fármacos”, vincou.
O cancro da mama é o cancro com maior incidência na Madeira, mas em termos de mortalidade, em 2020, 25% das mortes foram devido a cancro do pulmão e do colon retal. Estão relacionados com fatores internos, genéticos, mas sobretudo externos como o tabagismo e a má alimentação, explicou Rita Castro, ainda assim vincou que “receber a notícia de cancro já deixou de ser um diagnostico de morte”, o que atesta bem o avanço da ciência nos últimos anos.
Neste momento Rita Castro encontra-se a trabalhar no projeto de valorização eco sustentável de espécies invasoras da Macaronésia com vista à produção de fibras industriais, que envolve as Universidades da Madeira, de Las Palmas de Gran Canária e dos Açores. “O objetivo é utilizar as plantas invasoras, como o ricínio, o rabo-de-gato, a tabaibeira e a canavieira para produzir novos materiais biodegradáveis, com menos plástico”. Os resultados vão ser apresentados a meados deste ano num congresso científico, que se realiza no Funchal, com a participação da Universidade do Minho.
Entrevista Rita Castro (vídeo)
Entrevista Madeira Novos Talentos + Futuro: Rita Castro investigadora de bioquímica (áudio)