A escritora madeirense Valentina Silva Ferreira, foi a última madeirense destacada por José Manuel Rodrigues, Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, na edição desta legislatura do “Madeira Novos Talentos + Futuro”.
Valentina Silva Ferreira, é atualmente um dos nomes mais falados na literatura de autoria madeirense, após ter lançado há menos de um ano, o livro “Vertigens”. A entrevista decorreu na Livraria Esperança, uma das livrarias mais emblemáticas da cidade do Funchal.
A obra “Vertigens” trouxe uma mudança na vida de Valentina que afirmou “Recebo mensagens quase diariamente, de gente que não conheço e que tira tempo do seu quotidiano, para me procurar e dar a sua opinião acerca da minha obra e do meu trabalho. O melhor deste último ano, tem sido conhecer vários leitores, muitos deles a fazer trabalho de voluntariado e fundamental, na divulgação da literatura nacional, e outras escritores com quem partilho experiências. A minha obra tem sido muito acarinhada pelo público o que me deixa extremamente feliz.”
Valentina tornou-se ativista e as causas pelas quais luta e trabalha acabam por estar constantemente presentes na sua escrita. “Neste momento, é difícil para mim escrever uma história que não envolva, por exemplo, as mulheres e a voz que deviam ter, e que infelizmente ainda não têm”, afirmou.
Questionada por José Manuel Rodrigues se concorda com quem diz que “as feministas estão a vingar-se do que os homens fizeram às mulheres durante muitos anos”, a escritora Valentina Silva Ferreira assegura que “não pretendo vingar-me de ninguém. Estou, sim, a trabalhar por uma causa, e aproveito esta ocasião para apontar que é importante desconstruir a ideia do que é o feminismo. Nós não somos inimigas dos homens, nós não odiamos os homens, pelo contrário. Não nos estamos a vingar, estamos a tentar alcançar aquilo que os homens já conseguiram há algum tempo. Nós queremos que os homens participem na nossa luta”, afirma, certa de que “só em conjunto com homens é que se conseguirá alcançar uma verdadeira igualdade”.
Ao ser novamente abordado, nesta conversa, o beijo de Luis Rubiales a Jenni Hermoso durante a celebração da vitória no Mundial feminino, Valentina Silva Ferreira, que diariamente trabalha com a UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), não teve dúvidas de que se trata de um caso de assédio, que também o seria numa situação inversa. Contudo, numa perspetiva bem distinta, até porque “os próprios media e comunidade iriam agir de forma diferente. Provavelmente, não haveria esta polémica ou ela seria conotada com outros nomes e ele seria talvez mais protegido do que ela está a ser”, considera, lamentando que a situação que ocorreu tenha abafado toda a luta que tem sido feito pelas jogadoras de futebol para que haja uma efetiva igualdade neste desporto.
A escritora madeirense quando questionada por José Manuel Rodrigues, acerca do futuro, partilhou que “Espero viver exclusivamente da escrita, o que, aliás, julgo ser o objetivo de qualquer pessoa que se dedica tão apaixonada e rigorosamente a qualquer arte. É o meu objetivo, sem dúvida, sempre foi, e tenho trilhado o meu caminho nesse sentido. Não sei se irei conseguir, e não tenho um prazo definido para isso. Mas se não o for, não será por falta de tentativa. Enche-me de orgulho e esperança quando vejo colegas em especial mulheres, conseguir fazer da escrita, a sua ocupação exclusiva.”
Valentina Silva Ferreira, terminou de escrever um livro que se encontra em análise com a sua editora. “O próximo passo será, caso seja aceite, trabalhar nele para que fique o melhor possível para o público, claro.”
Valentina quando questionada por José Manuel Rodrigues acerca das suas expetativas como escritora, mostrou ter a consciência das dificuldades em exercer a profissão em Portugal, pois o nosso país, é um dos países com um dos mais baixos índices de leitura na Europa. “Tenho percebido que a profissão de escritora, não tem que ser uma profissão solitária, e apesar das dificuldades que sinto, há coisas a mudar positivamente”.
O Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, interpelou Valentina a respeito das tecnologias. As tecnologias têm trazido mudanças positivas na sociedade, o que pode trazer uma eventual desvalorização da literatura nos planos de investimento, quando nos tempos que correm, são de crescente valorização e inovação, Valentina afirmou com otimismo que “o livro, enquanto objeto, e a literatura, enquanto arte e pensamento, têm sempre espaço no nosso país, mesmo que os planos de investimento sejam diminutos. Existe uma resiliência em quem escreve, em quem publica, em quem lê e em quem organiza eventos literários, para que o panorama se altere. Ainda que os nossos índices de leitura sejam dos mais baixos da Europa, vemos que as novas gerações de leitores, com as suas ferramentas de edição de vídeo e imagem, através das diversas plataformas online, que têm fomentado a leitura junto dos seus públicos alvo nas redes sociais”.
A autora da obra “Vertigens” reconhece ainda assim que, “é preciso uma mudança de paradigma no sistema, desde já a começar pelos planos nacional e regional de leitura. É necessária uma reformulação de raiz, de concursos literários importantes, cujos júris mantêm uma postura extremamente rígida daquilo que consideram uma leitura de qualidade”.
“A escrita foi sempre aquela componente presente ao longo destas várias indecisões na minha vida. Podia estar perdida no resto, mas tinha sempre o meu caderno e a minha caneta comigo”, afirmou a escritora Valentina Silva Ferreira.
O projeto “Madeira Novos Talentos + Futuro” foi uma iniciativa que juntou o JM numa pareceria com a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, que segue o desígnio de reconhecer e partilhar com a população o talento de jovens madeirenses por vários universos profissionais.
Madeira Novos Talentos Valentina Silva Ferreira- 07.09.2023 (vídeo)