Os alunos do 3.º ciclo de 20 escolas madeirenses aprovaram, hoje, na edição XXIV do Parlamento Jovem Regional, uma recomendação que alerta para os riscos do uso excessivo das tecnologias. Sob o tema ‘Influência das tecnologias no rendimento escolar dos Jovens’, o debate, que aconteceu na Assembleia Legislativa da Madeira, motivou a reflexão sobre a evolução das tecnologias e a forma como são utilizadas na vida quotidiana, inclusive na escola.
Os estudantes questionaram o benefício da utilização “dos tablets nas aulas e se, de facto, trazem mais vantagens que desvantagens”. Lembraram que o “rendimento escolar dos adolescentes é muitas das vezes determinado a nível político, económico, social, tecnológico e, inevitavelmente, educativo. A evolução da tecnologia tem muitos benefícios, mas isso leva a que a sociedade queira inseri-la em tudo, quer seja na educação, na medicina, na matemática, entre outros. Isto leva à criação de uma expectativa crescente de que agora a escola mudará rapidamente”.
Como vantagens os jovens apontaram “a personalização do ensino, permitindo ao professor uma perceção mais individualizada dos níveis de aprendizagem de cada aluno; o fácil acesso dos alunos à informação através da internet; a promoção da autonomia, ou seja, a procura pelo saber e por aprofundar os conhecimentos e a diminuição do peso excessivo das mochilas”. No entanto, e como reverso, verificam que “as novas tecnologias, quando implementadas em sala de aula, são uma grande fonte de distração e, por vezes, não são vistas como ferramentas de trabalho. A qualidade/quantidade da informação fornecida na internet é também um problema, visto que, nem sempre são informações de fontes fidedignas, nem aprofundam os conteúdos corretamente. Também, a questão dos bloqueios frequentes do acesso aos manuais digitais e dos materiais disponibilizados pelos professores. No nosso ponto de vista, apesar de todos os benefícios que as novas tecnologias nos disponibilizam, o fator da distração é muito comum, conseguindo sobrepor-se a todos os outros fatores positivos que, não sendo vistos como uma ferramenta de trabalho, revelam pouca importância”, vincaram no documento aprovado no Parlamento madeirense.
“Com isto, queremos dizer que, somos a favor do progresso, mas contra o retrocesso intelectual, originado pelo uso constante e abusivo das tecnologias de informação e comunicação. Não devemos seguir os passos da Dinamarca, da Noruega, do Reino Unido e da Suécia, porque nestes países já concluíram que o uso excessivo das tecnologias estava a limitar, nas crianças de tenra idade, o desenvolvimento da linguagem. Neste contexto, a universidade de Harvard, nos EUA, conseguiu demonstrar que o uso excessivo das tecnologias estava a prejudicar a comunicação, a interferir com o sono e a prejudicar o desenvolvimento cognitivo”.
Hélio Antunes, aluno da EBS Bispo D. Manuel Ferreira Cabral, propôs a “criação de campanhas de sensibilização para alertar jovens/encarregados de educação para a interferência dos tablets no desenvolvimento físico, mental, social e escolar dos jovens”.
Já Joana Sousa, da EBPE Dr. Eduardo Brazão de Castro, sugeriu “o conteúdo ‘Cidadania Digital’ na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, a partir do ano de escolaridade em que os alunos começam a utilizar os tablets no quotidiano escolar”.
José Pedro Gaspar, do Colégio de Santa Teresinha, referiu que “os tablets deveriam de ser utilizados como recurso e não como ferramenta principal de ensino/aprendizagem. Assim, os alunos deviam de ter os livros em papel, usando os tablets apenas para pesquisas e/ou trabalhos de projetos de forma a obter um sistema híbrido”.
Laura Rodrigues, da EBS de Santo António e Curral das Freiras, afirmou ser preciso “garantir que todos os alunos tenham acesso igualitário às tecnologias, minimizando a disparidade digital”.
Na recomendação está, ainda, a sugestão de Inês Sousa da Câmara, da EBS Padre Manuel Álvares, para que seja criado “um banco de recolha de livros para facilitar a aquisição de manuais em suporte físico”.
20 escolas madeirenses, 100 alunos e 20 professores estiveram envolvidos no Parlamento Jovem Regional deste ano.
O Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, presidiu à sessão de abertura. O debate com os estudantes madeirenses contou com as intervenções do Diretor Regional de Educação, Marco Gomes, e dos Deputados representantes dos Grupos e Representações Parlamentares (PSD, PS, JPP, CHEGA, CDS/PP, PCP, PAN e BE), que foram questionados pelos jovens.
Parlamento Jovem Regional 24.05.2024 (áudio)