O presidente da Direção Regional da Madeira do Sindicato dos Jornalistas reafirmou, hoje, no Parlamento madeirense que o trabalho dos profissionais da comunicação social “foi condicionado” durante os incêndios do mês de agosto. O Filipe Gonçalves foi ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o «Apuramento de responsabilidades políticas no combate aos incêndios ocorridos entre o dia 14 e 26 de agosto», onde reiterou que em vários momentos a “comunicação social foi barrada” e impedida de desenvolver o trabalho de informar com rigor e sem alarmismos.
O jornalista vincou, ainda, o desagrado pelo desmentido do Governo Regional das notícias que deram conta da vinda dos aviões Canadair para a Madeira. “Aquilo que era mentira, poucas horas depois acabou por ser verdade”, lamentou.
“De entre os deveres e direitos, ao jornalista, nunca, por nenhuma circunstância, deve ser negado o acesso à informação. E, quando assim é, terá de ser denunciado. De imediato. E sem medos. Foi o que este sindicato fez aquando dos incêndios que fustigaram a Madeira, em agosto”, referiu na intervenção inicial perante os deputados madeirenses.
“Chegaram ao nosso conhecimento várias queixas sobre jornalistas que estavam a ser barrados no acesso a determinadas zonas onde decorriam os incêndios. Houve jornalistas que foram obrigados a sair, escoltados pela PSP. E quando tentaram perceber o porquê de determinada atitude, foi-lhes dito apenas que tinham de abandonar a zona e que ali só podiam permanecer os moradores”, afirmou.
O Sindicato dos Jornalistas entende que “nestes últimos incêndios houve falta de transparência e, em alguns casos, impedimentos à cobertura daquilo que estava a acontecer no terreno. Para quem andava a fazer cobertura dos incêndios, junto das zonas mais afetadas, falava em duas realidades: a que era dita nas conferências de imprensa e a que realmente estava a acontecer no terreno”, salientou.
Filipe Gonçalves considera que já foi demonstrado “em outras ocorrências que um jornalista informado consegue informar melhor a população. Desta vez, isso não aconteceu. Também não percebemos porquê”, lamentou.
“O sindicato aproveita esta oportunidade para reiterar o respeito que tem por todas as forças de segurança, de proteção civil, militares, policiais e de todos os restantes operacionais das autarquias e juntas de freguesia que estiveram no terreno. Enaltecemos o trabalho árduo desenvolvido em circunstâncias adversas”, disse Filipe Gonçalves.
A terminar frisou que o “Sindicato tudo fará para salvaguardar a profissão do jornalista e estará atento a quaisquer condicionamentos à atividade do jornalista”.
Perante o que se passou em agosto, Filipe Gonçalves considera importante, no futuro, criar uma “task force para a comunicação social” com “briefings” diários, com hora marcada, de modo a que os profissionais da televisão, dos jornais e das rádios possam informar, em direto, a população, com a presença de um porta-voz da proteção civil, para que as explicações sejam concretas, claras e assertivas.
C.Inq.Incêndios_Filipe Gonçalves 20.11.2024.mp3