Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira defende reforma da ONU na promoção da PAZ

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O Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira defendeu, hoje, em Paris, mais proximidade entre os povos, mais respeito pelas culturas, e uma maior eficácia da Organização das Nações Unidas (ONU) na mediação dos conflitos. Estas três diretrizes são, para José Manuel Rodrigues, elementos...

XIV Legislatura, I Sessão Legislativa PresidentePresidente
Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira defende reforma da ONU na promoção da PAZ
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O Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira defendeu, hoje, em Paris, mais proximidade entre os povos, mais respeito pelas culturas, e uma maior eficácia da Organização das Nações Unidas (ONU) na mediação dos conflitos. Estas três diretrizes são, para José Manuel Rodrigues, elementos essenciais para a promoção e manutenção da Paz, e para a existência sociedades mais tolerantes e respeitadoras das diferenças, em todo o mundo.

Foram declarações proferidas no “Fórum 21” do Encontro Internacional pela Paz, que decorre desde domingo em Paris. No fórum, que teve como tema “a convivência entre os povos”, o líder madeirense começou por referir que “a proximidade entre os povos e o respeito pelas suas culturas são o segredo para a PAZ. Quando nos conhecemos e aceitamos as nossas diferenças, é mais fácil uma sã e produtiva convivência e, independentemente das religiões e dos sistemas políticos, é possível dialogar, conversar e chegar a consensos e entendimentos sobre as grandes questões da humanidade”.

José Manuel Rodrigues socorreu-se da história da Madeira para exemplificar como a cultura de tolerância tem efeitos positivos na convivência entre as sociedades. “Esta abertura ao Mundo, alicerçada no facto de a Madeira ter sido a primeira de todas as descobertas de Portugal e a plataforma daquilo que os historiadores, hoje, designam de primeira globalização, deu-nos uma mundivisão e uma abertura a outras civilizações e a outras culturas, atitude que perdura até aos nossos tempos.

O turismo, nossa principal atividade económica, alargou esta abertura ao mundo e esta interdependência económica e social com outras regiões, outros povos e culturas.

Quando nos conhecemos, mesmo nas nossas divergências e diferenças, não entramos em confronto, não nos violentamos, não conflituamos e temos a tendência para encontrar pontes e pontos de diálogo, de convergência e entendimentos, que favorecem a concórdia e a Paz.

Os grandes inimigos da Paz são o desconhecimento e a falta de empatia entre os povos”, salientou.

O Presidente do Parlamento madeirense enalteceu, ainda, o papel das religiões “no respeito pelas suas crenças e na tolerância para com as suas práticas”, o que tem ajudado “a estabelecer diálogos e convergências para procurar caminhos de paz e de concórdia”.

Numa altura em que “voltam a soar as trombetas da guerra em muitos pontos do mundo”, quando “há sinais preocupantes de que poderemos caminhar para um terceiro grande conflito mundial”, e quando a Europa “volta a pôr na ordem do dia das suas prioridades o rearmamento dos países da União Europeia”, José Manuel Rodrigues avisa “que a escalada armamentista constitui uma enorme ameaça à existência humana, sobretudo quando se fala de armas nucleares”.

“Quando ouvimos que os Estados se preparam para gastar mais dinheiro, muito mais dinheiro, em defesa, desviando verbas que poderiam ser canalizadas para a melhoria do Estado Social, para o Crescimento Económico, para o Desenvolvimento, para a Saúde e para a Educação, há razões para estarmos preocupados e atentos”. José Manuel Rodrigues lembrou que “a pobreza e as desigualdades sociais são a origem e a razão de muitos e insanáveis conflitos”, por isso sugeriu aos dirigentes mundiais a ponderação do “perdão da dívida dos países mais pobres, já que o fardo do pagamento das suas dívidas é um forte entrave ao seu desenvolvimento sustentável”.

O Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira aproveitou o Encontro Internacional pela Paz para questionar o papel da Organização das Nações Unidas (ONU). “A melhor demonstração de que a ordem internacional que construímos, desde meados do século passado, está ultrapassada é o falhanço da Organização das Nações Unidas na mediação dos recentes conflitos que eclodiram em várias zonas do mundo”, começou por referir o líder do principal órgão de Governo próprio da Madeira.

“Hoje, esta instituição não é respeitada pelos Estados, as suas decisões não são acatadas, o seu espaço de mediação tornou-se num diálogo de surdos e ninguém parece estar interessado em reformar esta organização e dar-lhe um novo impulso para prosseguir os objetivos para os quais foi criada”.

Por isso, José Manuel Rodrigues entende que está na altura “de as nações desunidas refletirem sobre o que querem fazer da ONU e se querem que ela possa ser, como já o foi no passado, a grande organização mundial capaz de antecipar e travar conflitos, decisiva e eficaz na mediação entre países, para evitar guerras, influente e respeitada por todos os que assinaram a sua Carta Fundamental”.

“A verdade é que a Organização das Nações Unidas já não reflete nos seus poderes e equilíbrios a evolução do mundo, o desenvolvimento registado nos vários continentes, o crescimento dos diversos Estados, o peso de cada país na economia e na política internacional, a importância de cada uma das nações no contexto geopolítico, e aqui radica a sua desconexão com a realidade dos dias que vivemos e a sua perda acentuada de importância como organismo maior, onde deveriam confluir os superiores interesses da Humanidade.

Como compreender que a India e o Brasil, mas mais grave a África, que representará no final deste século 40% da população mundial, não esteja representada no Conselho de Segurança das Organizações das Nações Unidas? É uma clara e grave distorção da representatividade e da democracia”, alertou.

“A crise das migrações e a falta de políticas globais para enfrentar este grave problema constituem, talvez, a mais gritante das falhas dos Estados que verdadeiramente mandam nas Nações Unidas”, apontou José Manuel Rodrigues.

“O que se passa no Mediterrâneo, no Atlântico, nas fronteiras dos Estados Unidos ou em tantos outras zonas do globo é a prova de que não estamos a ser capazes de responder às necessidades dos nossos semelhantes que, compreensivelmente, fogem das guerras, das perseguições políticas e religiosas, da fome, da pobreza, e que apenas procuram uma oportunidade que não encontram nos seus países de origem”, afirmou.

“Só no respeito integral por estes mundos do Mundo poderemos imaginar e acreditar que a Paz é possível, que a Paz não é uma ilusão ou uma utopia”, concluiu.

O Fórum 21, subordinado ao tema “a convivência entre os povos” foi moderado por Mario Marazziti (Itália), da Comunidade de Sant’Egídio, que reforçou a importância do diálogo que se verifica no Encontro Internacional pela Paz, que aos poucos tem dado passos positivos na conciliação internacional, e que aos poucos vem mudando os paradigmas.

Nicolas Guinard (França), da Organização Internacional da Francofonia (OIF), revelou que estão a ser lançados projetos concretos que pretendem promover a Paz e a Democracia, através do multilinguismo, “porque viver juntos é também defender a diversidade linguística”. Para consolidar estes dois objetivos a “OIF está a apoiar os processos eleitorais democráticos”. “Quando um Estado se une à Francofonia tem o compromisso de aceitar a democracia. Desta forma queremos construir democracias e Estados de Direito sólidos, que defendam os direitos humanos”, vincou Nicolas Guinard.

Oliver Roy (França), orientalista e cientista político, considerou que não deve haver dogmas, mas sim valores. “Se nós não conseguirmos alcançar um acordo sobre os valores jamais poderemos viver juntos. E a Paz é um valor em si.”

Oliver Roy apontou alguns cenários para um possível entendimento: aceitar valores dominantes de cultura sem impor uma visão de sociedade; aceitar todas as crenças e religiões, o que implica a liberdade de pensamento; e aceitar o multiculturalismo”.

Patricia Giunti (Itália), Presidente da Fundação Giorgio La Pira, afirmou a fraternidade como um dos caminhos para a construção de uma melhor convivência entre os povos. “Em 2050 50% da população mundial viverá em cidades. É evidente que se vai agravar ainda mais a solidão. A solidão urbana é a negação de viver juntos. Por isso temos de repensar as cidades como lugares que curam as pessoas e como lugares de socialização e confraternização”, rematou.

Ruzbeh Hodiwala (índia), representante do Zoroastrianismo, uma das religiões mais antigas do mundo, pediu atenção para o agravamento das tendências xenófobas. “Esta é a maior ameaça que nós enfrentamos atualmente, e tem a ver com as fake news, que são uma grande ameaça para alcançar a Paz. Por isso é preciso investir na juventude, através da promoção de conferências e encontros que promovam a informação e a verdade”, rogou.

Syuhud Sahudi Marsudi, Vice-Presidente do Conselho de Ulema da Indonésia, lembrou a importância do respeito pelas diferentes das religiões, da compaixão e do respeito mútuo. “É preciso investir numa cultura de tolerância, porque da tolerância resulta coisas boas para todos”, afirmou.

Yoshiharu Tomatsu (Japão), Presidente da organização Religions for Peace, disse ser preciso “mudar o estilo de vida de consumismo para um estilo de vida em que se promova o contentamento com muito menos coisas. Esta é forma simbiótica de coexistência, que ajuda a defender o bem-estar e a natureza de todo o mundo”.

A Cerimónia de encerramento acontece esta tarde, às 18 horas, na praça de Parvis de Notre-Dame, no coração do centro histórico de Paris.

 

José Manuel Rodrigues - 24.09.2024 (áudio)
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