O Salão Nobre da Assembleia Legislativa da Madeira acolheu a apresentação da nova edição de Insulana, o poema épico de Manuel Tomás, originalmente publicado em Antuérpia e Ruão em 1635. A obra, agora reeditada sob a coordenação do historiador Nelson Veríssimo e com chancela da Imprensa Académica, volta a estar disponível ao público quase quatro séculos após a sua primeira aparição, reafirmando o seu lugar no património literário madeirense e nacional.
Manuel Tomás, natural de Guimarães, onde nasceu em 1585, fixou-se na Madeira em 1610, dedicando-se à atividade comercial e à literatura, até à sua morte em 1665. Autor de diversos livros, é em Insulana que se encontra o expoente máximo da sua produção literária. A epopeia revisita o descobrimento da Madeira e a evolução histórica do arquipélago até às primeiras décadas do século XVII, elegendo João Gonçalves Zarco como herói central do poema.
Durante a sessão, a Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Rubina Leal, destacou o significado cultural da obra e o simbolismo da sua apresentação no Salão Nobre. Sublinhou que este momento representa “não apenas a celebração de um livro, mas o reencontro com uma obra que integra o núcleo fundador da memória histórica, cultural e literária da Madeira”. Realçou ainda a relevância intelectual de Manuel Tomás no contexto do século XVII e a forma como este soube conjugar “o rigor da narrativa histórica com a elevação estética da poesia épica”.
Referindo-se à dimensão historiográfica e literária do poema, Rubina Leal afirmou que Insulana constitui uma fonte preciosa para a compreensão da visão seiscentista da Madeira, refletindo a memória dos primeiros povoadores, a relação com o mar e a construção simbólica do espaço insular. Do ponto de vista literário, sublinhou o diálogo com a tradição épica portuguesa e a influência camoniana, que integra a Madeira no universo cultural moldado por Os Lusíadas. Nesse sentido, considerou a obra essencial para a leitura da identidade madeirense, “na sua dimensão histórica, literária e imaginária”.
A Presidente do Parlamento Madeirense destacou ainda o contributo decisivo desta reedição para a valorização do património literário, tornando acessível às gerações atuais um texto que durante demasiado tempo permaneceu restrito a círculos especializados. Enalteceu o trabalho de investigação e coordenação de Nelson Veríssimo e reconheceu o papel da Associação Académica da Universidade da Madeira e da Imprensa Académica, que desde 2014 têm assumido a missão de publicar obras de mérito científico e cultural.
A apresentação de Insulana no Salão Nobre revestiu-se também de caráter excecional por ocorrer num período em que se assinalam as comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, que se prolongam até 2026, reforçando a ligação entre a epopeia de Manuel Tomás e a tradição literária camoniana. Ao acolher esta sessão, a Assembleia Legislativa reafirmou o seu compromisso com a defesa da cultura, da memória histórica e da identidade da Madeira, reconhecendo que o conhecimento do passado é condição fundamental para a construção consciente do futuro.